GUIA DA VIAJANTE CADEIRANTE

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Ha 7 anos, tarefas como escovar os dentes ou trocar de roupa eram comuns e nao exigiam dificuldade alguma para a estilista Michele Simoes. Naquela epoca, aos 24, ela tinha acabado de se formar em Moda e havia se mudado do interior de Sao Paulo para a Capital. Dividindo um apartamento com outras tres amigas, trabalhava, pagava suas proprias contas e economizava para fazer um intercambio – sonho que pretendia realizar o quanto antes.


Foi quando, com apenas dois meses na cidade, sofreu um acidente de carro. Michele estava deitada no banco de tras do veiculo conduzido por um amigo, que fez uma conversao errada. Por isso, quebrou a coluna e acabou paraplegica – o que nao so lhe privou dos movimentos das pernas como afetou o equilibrio de seu tronco. “Do dia pra noite seu corpo muda e voce precisa reaprender tudo, inclusive como ele funciona.” O intercambio precisou ser adiado. Ela conta que nos primeiros anos apos o acidente, as tarefas mais simples – como escovar os dentes – acabaram se tornando desafios pessoais, e vencer cada um deles foram passos fundamentais para que pudesse hoje enfim realizar o esperado intercambio.
Agora, com 31 anos, a estilista esta em Boston, Estados Unidos, para estudar ingles por dois meses. Com o patrocinio de tres empresas (a CI Central de Intercambio, a House Boutique de Impressao e Arte, e a Kana Filmes) e a ajuda financeira de familiares e amigos, ela pretende provar para si mesma que e possivel ser cadeirante e nao se privar de nada. “Quem decide minhas limitacoes sou eu”, afirma.


E a primeira vez que Michele se propoe a uma experiencia como essa. Morar em um pais estrangeiro, com um idioma que nao domina e, ainda, sobre uma cadeira de rodas. Em 2012 ela passou 5 dias em Buenos Aires, no entanto explica que a cdade perde pontos quando o assunto e acessibilidade. “Nao e um lugar pensado para cadeirantes. Senti que a acessibilidade nao e uma questao relevante por la. Como no Brasil, somos invisiveis.”


Na viagem ela esta com o namorado – que conheceu semanas antes do acidente, mas que foi engatar mesmo o namoro no hospital, enquanto iniciava os tratamentos – porem, garante que apesar da companhia, a intencao e tentar ao maximo fazer tudo de forma autonoma. “Prometi a mim mesma que seria uma experiencia minha comigo mesma. Entao, na maioria das vezes faco tudo como que se ele nao estivesse ali. Para mim cada detalhe e uma superacao.”


Michele promete relatar e fotografar sua experiencia no blog Guia do cadeirante viajante. Na pagina ja e possivel ler sobre a chegada da estilista em Boston e suas primeiras percepcoes sobre a viagem e a cidade. Alem do curso de ingles, ela pretende conhecer e mostrar os servicos e facilidades que Boston oferece para deficientes fisicos, e ainda as desventuras que um cadeirante pode passar em uma viagem internacional. Para a Tpm ela adiantou boas noticias: “Em poucos dias que estou aqui ja consigo ver a preocupacao que a cidade tem com os cadeirantes. Eles estao por toda a parte, eles saem as ruas. Isso mostra que estao seguros e a vontade nelas.” E termina: “Minha intencao nao e provar nada pra ninguem a nao ser eu mesma. Espero inspirar outros cadeirantes com a minha historia”.

 

 

Blog dela: guia do viajante cadeirante

Vi, na: Revista TPM